



Quando a cor chega no Azul
Exposição Individual parte do 31o Programa de Exposição do Centro Cultural São Paulo.
Instalação com 21 aquarelas de diferentes dimensões.
Aquarela, flor de Clitoria Ternatea sobre papel algodão e base de madeira.
Quando a cor chega no azul por Diane Lima
Quando se questionar sobre afetação e envolvimento ao se enroscar nas cores espacializadas sob os papéis, talvez o que não esteja ao alcance e esteja por ser criado é um corpo disposto a um mergulho aquoso em uma cena prefigurativa, no qual o desejo maior do encontro parta do como: no como o fazer de Juliana dos Santos "vibra como um feito, uma ação, um fardo ou um artefato" numa frequência espiritual, cromática e rítmica capaz de nos envolver com o corpo todo.Como destaco nas aspas, o "como" a que me refiro, é uma tentativa de aproximação do pensamento articulado por Denise Ferreira da Silva no texto How em que a autora apresenta como nós mulheres negras fazemos, ou melhor, criamos, e como, sem reivindicar um programa ou um método, pulsamos numa imanência radical que é pura ilimitação: "aqui tenho em mente como as mulheres negras existem; como fazemos o trabalho intelectual, artístico e o nosso trabalho de vida; como ensinamos e orientamos, viajamos, amamos, cuidamos, visitamos, aninhamos, curamos". Se "teoricamente, à luz da prevalência de uma abordagem formal da estética, muitos desses feitos não recebem atenção imediata", advertimos ao fato de que, como veremos, é preciso estar predisposta a ultrapassar as categorias descritivas formais da enciclopédia da história da arte para encontrar o que acontece "Quando a cor chega no azul", título da exposição apresentada por Dos Santos no 31a Programa de Exposições 2021 do Centro Cultural São Paulo. "Porquê o como se refere ao que já foi e não foi feito, ao que se passa neste exato momento e naquele outro lugar inimaginável, porque o como evoca o infinito (...)". Colapsando nesse conjunto de trabalhos as dicotomias entre arte e natureza, corpo e mente, a artista amplia a pesquisa sobre o tempo que o pigmento azul extraído da flor Clitoria Ternatea vem lhe proporcionando, adicionando às questões já postas anteriormente sobre a materialidade, perspectivas tanto cosmológicas quanto históricas que se formalizam numa nova série de aquarelas coloridas no encontro com a experiência do azul. Tendo iniciado as primeiras pinturas a partir de um comissionamento que teve curadoria nossa na ocasião do Valongo Festival Internacional da Imagem - O melhor da viagem é a demora de 2019, essa nova exposição, para além de nos permitir sentir a passagem dos dias e da luz incidindo sobre esses dois anos de sopros com o azul, cria diferentes camadas temporais ao receber no molhado das pétalas o colorido de inéditas aquarelas. Momento onde as noções de efemeridade e durabilidade da superfície pictórica se confrontam com a fixação, o seu ímpeto de permanência e inscrição histórica (...).
* Texto para Catálogo da 31o Programa de Exposição do Centro Cultural São Paulo
Para acessar texo na íntegra acesse: <http://centrocultural.sp.gov.br/wp-content/uploads/2022/03/MIOLOCatalogo31amostra.pdf>
Crédito das fotos: Filipe Berndt
